Um ano iniciando, 2019, e com ele muitas projeções, esperança de novos tempos e, principalmente, de retomada da economia brasileira, do crescimento do País, bem como de uma gradativa melhora na condição de vida de nossa população. Assim, com tantas expectativas que normalmente costumam pairar na virada de um ano para outro, e, especificamente, em razão de um período de economia recessiva e de dificuldades que viemos atravessando há algum tempo, trazemos, a seguir, a opinião da economista-chefe da Fecomércio-RS, professora da ESPM Sul, Faculdades São Francisco de Assis e Uniritter, Patrícia Palermo.
O que pode ser projetado para a economia brasileira em 2019, e consequentemente, para os próximos anos?
O País vive uma recuperação cíclica, isto é, um momento de crescimento econômico provocado pela recomposição dos estoques e dos investimentos para evitar a obsolescência tecnológica. Entretanto, estamos vivendo uma conjuntura mais favorável do que a do final de 2017. As famílias e as empresas estão menos endividadas, o mercado de trabalho formal (CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) vem registrando números positivos, o déficit em transações correntes é bastante reduzido e o crédito, aos poucos, vem crescendo. Além disso, há muita ociosidade na economia, o que reduz pressões inflacionárias. Logo, o cenário de mantermos taxas de juros baixas por mais tempo fica cada vez mais provável. Nessa conjuntura, se uma agenda de reformas for implementada com busca a atacar o déficit público em suas razões estruturais, ao mesmo tempo em que políticas que enderecem a um crescimento sustentável sejam implementadas, podemos já, em 2019, vivenciar um crescimento maior do que a maioria dos analistas prevê hoje, entre 2,5% e 2,8%, e iniciarmos, assim, um período de prosperidade. É importante ter claro, porém, que isso pode ser estimulado ou prejudicado pelo contexto internacional.
O ano de 2019 inaugura um tempo novo. Pela primeira vez, temos um governo de orientação genuinamente liberal na economia. Para realização de uma guinada liberal, todavia, apesar de isso ser uma condição necessária, não é uma condição suficiente. As mudanças mais significativas a serem implementadas passam necessariamente pelo Congresso Nacional, e nosso Congresso não tem um histórico de apoiar reformas de caráter liberalizante. É certo que houve uma renovação significativa no legislativo federal: aproximadamente 20% dos eleitos nunca tiveram cargos eletivos. Mas, tampouco, se sabe como eles se portarão frente a uma agenda como essa.
O governo do novo presidente do País, Jair Bolsonaro, deverá proporcionar uma maior confiança em nosso empresariado e em consequência da economia brasileira?
O programa de governo do candidato eleito é ambicioso e aponta numa direção entendida pelo mercado como bastante promissora. Entretanto, o programa é vago ao informar como vai operacionalizá-lo e, certamente, deverá enfrentar dificuldades no Congresso Nacional. Todavia, a equipe econômica, coesa em formação e em convicções, sinaliza que há a intenção de colocar o plano em prática e reforça a confiança garantida pela eleição. Entretanto, é importante ter ciência de que essa confiança em promessas de campanha tem prazo para acabar. O governo precisa usufruir do período de “lua de mel” derivada das urnas para encaminhar uma agenda de reformas estruturais (previdenciária e tributária) e políticas que promovam o crescimento. Caso contrário, a confiança gerada no momento pós-eleitoral pode vir a se deteriorar rapidamente.
A escolha do juiz federal Sérgio Moro como Ministro da Justiça no novo governo propicia uma relação de credibilidade ou estabilidade na economia do País?
O juiz Sérgio Moro tem um peso simbólico muito grande. Em linhas gerais, ele representa o combate à corrupção e à luta vigilante da justiça, para fazer com que todos submetam-se ao mesmo rigor da lei. Colocar o juiz Moro no cargo de Ministro da Justiça, dando a ele liberdade na execução de sua função, dá sinais materiais do compromisso do novo governo com o combate à corrupção. Isso, a médio prazo, tende a ter repercussão uma vez que um ambiente de menor corrupção é mais propício ao crescimento econômico.
Quais áreas da economia devem se recuperar mais rapidamente?
A economia brasileira como um todo pode crescer se forem encaminhadas políticas horizontais (de acesso a todos os setores) que melhorem o ambiente de negócios no País. Com isso, a competitividade de boas transações cresce de maneira exponencial, abrindo a possibilidade de um ciclo virtuoso de prosperidade. O agronegócio, por exemplo, que sempre se destacou, poderia ser ainda mais impulsionado.
Assim, se em 2019 a confiança dos consumidores crescer a ponto de torná-los otimistas, negócios voltados às famílias tendem a se expandir. Estamos falando do varejo de bens e serviços, e também de toda a cadeia produtiva vinculada a eles. Para isso acontecer, porém, a sociedade precisa estar convencida de que a crise ficou para trás, e isso só acontece quando as promessas de campanha se tornam ações, que viram medidas, que viram resultados capazes de transformar o clima econômico do País.
Se as concessões e privatizações se encaminharem, poderemos ver, já no curto prazo, uma recuperação da construção civil, por exemplo, ligada a obras de infraestrutura. No campo imobiliário, deveremos observar um aquecimento no mercado de venda de imóveis, mas a construção de novos empreendimentos ainda deverá ser tímida em termos históricos. É necessário, antes, reduzir os estoques, ainda bastante elevados.
Qual sua expectativa para que o desemprego diminua?
Em 2019, deveremos ainda conviver com taxas de desocupação elevadas, entre 11,5% e 12%. Por mais que se espere aumento na atividade econômica, existe ainda muita ociosidade na economia brasileira. Isto significa dizer que é possível aumentar a produção, sem que isso se transforme em emprego. Além disso, quando há geração de empregos formais, há uma transferência natural de pessoas que atuam na informalidade para a formalidade, o que melhora a qualidade do trabalho, mas não reduz a taxa de desocupação.
Patrícia Palermo é economista-chefe da Fecomércio-RS, professora da ESPM Sul, Faculdades São Francisco de Assis e Uniritter. Foi considerada economista do ano de 2016 no Rio Grande do Sul, pelo Conselho Regional de Economia do Estado, por sua destacada presença profissional no mercado gaúcho.