Chegamos em 2017, depois de um ano de muitas incertezas e dúvidas com relação à economia brasileira e ao futuro próximo de cada um de nós. Vivemos todos um 2016 de preocupação. Empresas tiveram de encerrar atividades, engordando ainda mais o contingente de desempregados em nosso País; salários e pró-labores achatados, mediante ao baixíssimo consumo e também um delicado e frágil cenário político se estabeleceu no Brasil com a polarização do povo referente a quem apoiar ou acreditar. Assim, viramos o ano com a certeza de que nosso Brasil precisa mudar e voltar a se desenvolver. E para nos dar um panorama do que temos pela frente, conversamos, a seguir, com o economista Igor Morais, ex-presidente da FEE (fundação de Economia e Estatística do RS); economista-chefe e sócio da Vokin investimentos; e ainda professor do Programa de Pós-Graduação em economia da Unisinos.
O que pode ser projetado para a economia brasileira em 2017?
A única certeza é que teremos um resultado macroeconômico melhor do que o presenciado entre 2014-2016, com pequena expansão do PIB, inflação mais baixa e juros em queda. Para termos surpresas positivas, é necessário estabilidade política e avanço em temas importantes que estão em discussão e que podem criar as condições para melhora da confiança. São as famosas reformas que tanto falamos e nada fizemos até então.
– Como você analisa os impactos do impeachment em nossa economia, em 2016?
Foram dois momentos bem distintos. Até agosto, o País agonizou na espera do desfecho final do impeachment e essa incerteza nos deixou sem ação em várias áreas de gestão pública. Isso, desde o governo federal, passando por estados e municípios,atingindo também o setor privado, com decisões em relação à investimentos. A partir de então, o clima de confiança com o futuro da economia retomou. Porém, ainda é insuficiente para garantir investimentos e uma perspectiva de melhora do ambiente produtivo.
– E os escândalos de corrupção que seguem sendo descobertos e divulgados, impactam de que forma no crescimento do Brasil?
Muitas pessoas estão associando o combate à corrupção com a recessão. Mas, na verdade, o que se vê é uma enorme sensação de desânimo que se reflete desde a decisão de consumo das famílias até o investimento dos empresários. Muitos estão vendo que o sistema está todo corrompido e isso aumenta a incerteza dos negócios. Mas, não é por isso que se deve parar de investigar e tentar corrigir essas distorções. Na verdade, essa crise é muito mais derivada dos erros de política econômica nos últimos 12 anos do que com desvios de recursos.
– Quando você entende que a economia brasileira começará a se recuperar de forma mais significativa e volte a se tornar competitiva?
O primeiro passo que demos foi ainda em 2016, de parar de cavar o buraco da crise. O segundo momento, que presenciaremos nos próximos 18 meses, será de lenta retomada, com crescimento baixo. Isso, porque nada fizemos até então para que o Brasil pudesse crescer de forma sustentada. Mudar esse patamar para um nível de competitividade de longo prazo demanda mais seriedade e compromisso dos nossos políticos com reformas importantes, em especial do sistema tributário, trabalhista e do Estado. A crise que se abateu está muito ligada ao modelo de país que muitos acreditavam ser ideal, com o governo fazendo tudo. O resultado está aí, não só na esfera federal, mas com estados, municípios e estatais sem condições de levar o dia a dia. Somente depois de reduzirmos o tamanho do Estado é que teremos condições de trilhar um caminho mais próspero.
– Quais áreas da economia devem se recuperar mais rapidamente?
Sem dúvida alguma, a agropecuária é o setor mais competitivo da nossa economia e que conseguiu trilhar melhor esses últimos três anos. Segmentos ligados à produção no campo, como máquinas e equipamentos agrícolas, insumos e à indústria de alimentos, pode apresentar resultados melhores do que a média, a despeito da piora das condições de financiamento para o investimento. Também vejo com perspectivas positivas segmentos industriais ligados à produção de matéria-prima, como plástico, borracha e metalurgia.
– E quais áreas vão crescer em longo prazo?
Considerando que o longo prazo seja para além de 2018, fica difícil definir uma perspectiva positiva não só para o setor, mas para a economia do País. Isso, porque teremos no meio do caminho novas eleições presidenciais que geram muita incerteza. Pode ser que tenhamos um governo pró-reformas ou então um com visão que nos coloque novamente no limbo econômico como nos últimos anos. Se tivermos um governo com uma agenda liberal, certamente as oportunidades serão as melhores para todos os setores.
– Qual sua expectativa com relação á diminuição do desemprego?
Dada a rigidez do mercado de trabalho no Brasil, com leis que só tornam mais caro contratar e demitir, é natural esperar que a retomada dos empregos ocorra bem depois que a atividade econômica tenha se recuperado. A saída da crise vem com a indústria, mas essa irá primeiro aumentar as horas trabalhadas para, somente em um segundo momento, quando o cenário de crescimento estiver mais claro, fazer novas contratações. Acredito que continuamos com taxas de desemprego elevadas até meados de 2017.
– Aproveitando que você está residindo em Los Angeles, na Califórnia (EUA), em razão de estar cursando pós-doutorado, qual a imagem do Brasil no país norte-americano?
Há mais conhecimento sobre a cultura alegre e os problemas de corrupção do Brasil do que sobre a estrutura produtiva. Afinal de contas, nossa economia cabe dentro do Estado da Califórnia e os norte-americanos estão com muitos outros problemas mais importantes para pensarem nesse momento de transição política. É uma pena, mas isso reflete o quanto fizemos escolhas erradas no campo da diplomacia externa nos últimos anos.
*Igor Morais é pós-doutorando em economia, pela University of California Riverside, na área de estatística aplicada e big data. Economista-chefe e sócio da Vokin Investimentos, professor do Programa de pós-graduação em economia da Unisinos e assessor do Simecan (Sindicato das Indústrias Metal Mecânicas e Eletro Eletrônicas de Canoas e Nova Santa Rita) e Sinborsul (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Artefatos de Borracha de São Leopoldo, de Santa Cruz e de Gravataí).Atuou por 12 anos como economista-chefe da Fiergs, e como presidente da FEE(Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul), entre fevereiro de 2015 e junho de 2016.